PÁGINAS

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Qual Prática deve a Igreja Exercitar: Evangelho + ismo ou Evangelho + ação?


Extraído da Revista Mosaico – Edição Janeiro/Junho 2010

A fé cristã é uma fé em ação. A reflexão em torno da ação missionária da Igreja cristã gerou uma pequena confusão na compreensão desta fé em ação. Não é possível negar o problema conceitual entre os termos Evangelismo e Evangelização. Alguns missiólogos afirmam que a utilização do termo Evangelismo é desaconselhável. As razões para este tipo de compreensão é que, geralmente, o uso do sufixo “ismo” se disseminou para designar movimentos sociais, ideológicos, políticos, opinativos, religiosos e personativos, através dos nomes próprios representativos, ou de nomes locativos de origem, e se chegou ao fato concreto de que potencialmente há para cada nome próprio um derivado. Para os que defendem esta posição, o correto é utilizar o termo Evangelização que significa “ação de difundir o Evangelho; ato ou efeito de evangelizar”.
Porém, como não há consenso nesta discussão e o termo evangelismo já se disseminou pela Igreja Cristã. Por sinal temos uma infinidade complementos, por exemplo, quem nunca ouviu falar de: Evangelismo pessoal, evangelismo criativo, evangelismo infantil, evangelismo explosivo, evangelismo de rua, evangelismo urbano e por último, temo ouvido falar de evangelismo por fogo [livro de Reinhard Bonnke]. Em outras palavras evangelismo se tornou, como se diz nos espaços eclesiásticos, “uma estratégia” para o crescimento das denominações eclesiásticas.
Portanto no contexto das reflexões desta revista pretendo oferecer alguns pontos de vista para o nosso crescimento quanto ao tema da Evangelização ou do Evangelismo. Para isso vou transitar nos dois termos.

Evangelismo no Contexto da Missão

O primeiro destaque na reflexão é que necessitamos entender a missão como algo mais abrangente que o Evangelismo. Se por um lado a tarefa do Evangelismo é construir fundamentos para a ação evangelizadora, por outro lado a missão tem um caráter mais global que o Evangelismo. A missão não é uma estratégia humana ou das igrejas para conquistar fiéis para as denominações, ela é um desejo amoroso de Deus. E, a resposta humana para este amor ficou registrado na instrução de Jesus aos seus discípulos em João 13.34-35: “Um novo mandamento vos dou: que ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei; que dessa mesma maneira tenhais amor uns para com os outros. Através deste testemunho todos reconhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros”. Por isso, evangelismo não pode ser praticado como estratégia para seduzir pessoas para projetos eclesiásticos. O evangelismo não deveria ser colocado no mesmo pé de igualdade com a missão, é necessário manter as devidas proporções, uma vez que é impossível dissociá-lo da missão mais ampla da Igreja.
Porém, o evangelismo é tema essencial da missão. E, este conceito firma-se com consistência, em especial para a América Latina, a partir do Congresso da Obra Cristã na América Latina (conhecido como Congresso do Panamá), em 1916. Este evento representa um marco missiológico para os protestantes da América Latina, uma vez que definiu a presença e as estratégias de ação para a expansão do protestantismo latino-americano. Pois, “a evangelização protestante anterior a esse acontecimento dependia em grande parte da visão de pequenas sociedades missionárias, em particular da iniciativa de indivíduos. Somente após 1916 procuraram consolidar esses esforços” (Arturo Piedra).
Outro evento significativo que relaciona Evangelismo no contexto da missão foi o Congresso Internacional de Evangelização, realizado em Lausanne, Suíça, em 1974. Dentro de suas teses principais estão: a Natureza da Evangelização; a Igreja e a Evangelização; Cooperação na Evangelização; Esforço Conjugado de Igreja na Evangelização; Urgência na tarefa Evangelística e Evangelização e Cultura.
Visto que o Evangelismo procura construir um conhecimento na ação evangelizadora da Igreja, e que muitas vezes esta construção é negligenciada por reducionismo da experiência religiosa, onde as comunidades de fé em seus contextos próprios por razões culturais constituem-se numa comunidade de iguais, o missiólogo David Bosch oferece um referencial importante, a saber: “a pessoa que evangeliza é uma testemunha, não um juiz”.

Evangelização como Estilo de Vida da Comunidade Cristã

Partindo do paradigma que a Evangelização consiste na tarefa de proclamar a boa notícia, cabe-nos refletir sobre a relação entre a Missão e a Evangelização. Por isso, pretende-se avançar com o conceito de que as ações missionárias são ações evangelizadoras. Refletir sobre quais são essas ações e a quem elas se destinam são tarefas da Igreja de Cristo.
A Evangelização é uma tarefa intransferível. O povo de Deus que acolhe a mensagem de salvação num gesto de gratidão testemunha para o mundo os feitos de Deus e como parte integrante da identidade cristã, tem no testemunho seu estilo de vida. Portanto, é necessário que a Igreja Cristã, na sua tarefa reflexiva possa oferecer “pistas” para as ações evangelizadoras, isto então nos remete a reflexão sobre Evangelismo.

Evangelização e Encarnação

A encarnação, na teologia de missão, significa ponto de partida para toda a discussão missionária. O Evangelho de João, que não faz parte dos evangelhos sinóticos, revela na introdução de sua teologia a dimensão da encarnação: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus [...]. E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Vimos a sua glória, glória como a do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” João 1.1 e 14. A própria encarnação é evangelização, no contexto da literatura joanina é o amor de Deus que o torna humano e vem habitar com a humanidade, porém “o grande desafio do Cristianismo é a encarnação, diante da tentação permanente da ‘desencarnação’. A encarnação do Verbo não se reduz à natureza humana de Cristo, mas envolve uma realidade humana mais ampla e permanente” (Tadeu Grings). A evangelização na dinâmica da encarnação permite que as dimensões culturais, no processo evangelizador, sejam respeitadas.
Por exemplo, as dimensões continentais do Brasil, revelam, em alguns casos, que as igrejas cristãs se articulam de forma desencarnada. Não é sem motivos que muitos historiadores, antropólogos entre outros, fazem críticas ácidas aos processos de evangelização de nosso continente quando milhares de culturas foram dizimadas. Este equívoco chamado aqui de ‘desencarnação’ foi praticado tanto pelo catolicismo romano no período do império como pelas missões protestantes no final do século XIX e início do século XX. Hoje procuramos uma evangelização sem rupturas com a cultura, uma evangelização encarnada pelos laços do amor, como revela João em seu evangelho.

Evangelização e Inculturação

Em especial, no mundo evangélico, ainda está presente o espírito de evangelização ou missionário na perspectiva da aventura. Muitos divulgam, promovem e buscam recursos para manter missionários em culturas diferentes do missionário. Há uma paixão por uma evangelização em culturas não nativas do missionário. O grande problema é como se realiza esta evangelização levando-se em conta o tema da inculturação. A exemplo do continente latino-americano muitas outras culturas sofreram agressões no processo evangelizador. No contexto desta reflexão, foi muito mais uma estratégia ideológica que uma ação evangelizadora. Esse equívoco é observado em dois grandes momentos: Se por um lado a ação evangelizadora dos católicos, no século XVI, foi motivada pelas estratégias de colonização do continente, por outro lado, a ação protestante, no final do século XIX e inicio do século XX, foi motivada pelo interesse estadunidense em dominar o “novo continente”. Pastoralmente eu tenho a suspeita que as disputas religiosas no Brasil refletem esses dois momentos. E, a pergunta, ainda em tom pastoral, que faço é: quando teremos sensibilidade cristã para uma ação missionária que contemple uma proposta de reconciliação? Pois, qual a razão de uma estratégia evangelística que em vez de reconciliar os proclamadores do Evangelho os separa e impõe disputas?

Indicações

Os paradigmas da evangelização e do evangelismo como prática missionária da Igreja contemplam temas essenciais da vida cristã, tais como os temas da cultura da encarnação e do amor de Deus. Muitas vezes as estratégias missionárias não sensíveis aos paradigmas acima se utilizaram de ideologias dominantes para proclamar suas “boas novas”.
Para aferir se esta minha afirmação faz sentido de vida em nossos tempos, reserve um tempo para a seguinte reflexão: o que as pessoas estão lendo, ouvindo e assistindo nas mídias religiosas de nossos dias? Esses areópagos virtuais proclamam um estilo de vida anunciado por Jesus como o “novo mandamento” ou se utilizam de estratégias de dominação ideológicas para fazer com que pessoas mudem a sua “bandeira” denominacional?
Peço a Deus em oração que nos ensine a viver o Evangelho como fruto da ação da Graça Divina em nosso meio.
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NICANOR LOPES é pastor metodista, coordenador do Curso de Teologia EAD e professor de Missão e Evangelização na FaTeo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

BOM DIA MEU QUERIDO DEUS!

"De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração e aguardo com esperança". Salmo 5.3

A aurora é o portão do dia, e deve ser guardada com orações. É a ponta do cordão que amarra as ações do dia, devendo ser atado com devoção.
Se percebêssemos melhor a grandeza da vida, seríamos mais cuidadosos com Suas manhãs. Quem sai correndo da cama para os fazeres do dia, e não espera para adorar, é tão tolo quanto quem não se veste ou não lava o rosto, ou tão insensato quanto o que se lança na batalha sem armas nem armadura.
Que nos banhemos no rio refrescante da comunhão com Deus, antes que a solidão e o peso da estrada comecem a nos oprimir.

Charles Spurgeon

Tenho prazer em minhas manhãs; a alegria de poder estar na presença de meu querido Deus nesses preciosos momentos do dia invade meu ser, sinto o Espírito Santo se movimentando dentro do meu interior, esquadrinhando-o, passando pelos cantos mais obscuros do meu ser; não que eu tenha o que esconder, mas faço sempre esse convite a Ele; que sonde meu coração, e se dentro de mim encontrar algo que não agrade a Ele, peço que retire, pois não quero nada entre eu e Ele.

Pela manhã posso ouvir a voz do meu querido Deus; quando me coloco a observar os seus preciosos ensinamentos, sinto-me como quem acabará de se assentar a mesa para uma farta refeição; é na palavra de Deus que tenho encontrado forças e sustento para o meu dia, conforme passo pelas páginas desse poderoso livro sagrado, minha alma refrigera, e tenho paz.

Fico me perguntando então, por que as pessoas têm dado as costas a Ele, sendo que todas as manhãs tem nos esperado ansioso para uma conversa na beira de nossas camas.

Fraternalmente,

Thiago Vitor

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

PACTO DE LAUSANNE

Introdução
Nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de 150 nações, participantes do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, em Lausanne, louvamos a Deus por sua grande salvação, e regozijamo-nos com a comunhão que, por graça dele mesmo, podemos ter com ele e uns com os outros. Estamos profundamente tocados pelo que Deus vem fazendo em nossos dias, movidos ao arrependimento por nossos fracassos e desafiados pela tarefa inacabada da evangelização. Acreditamos que o evangelho são as boas novas de Deus para todo o mundo, e por sua graça, decidimo-nos a obedecer ao mandamento de Cristo de proclamá-lo a toda a humanidade e fazer discípulos de todas as nações. Desejamos, portanto, reafirmar a nossa fé e a nossa resolução, e tornar público o nosso pacto.

1. O Propósito de Deus
Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do mundo, Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e também para a glória do seu nome. Confessamos, envergonhados, que muitas vezes negamos o nosso chamado e falhamos em nossa missão, em razão de nos termos conformado ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. Contudo, regozijamo-nos com o fato de que, mesmo transportado em vasos de barro, o evangelho continua sendo um tesouro precioso. À tarefa de tornar esse tesouro conhecido, no poder do Espírito Santo, desejamos dedicar-nos novamente.

2. A Autoridade e o Poder da Bíblia
Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e a única regra infalível de fé e prática. Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito de salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade, pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje. Ele ilumina as mentes do povo de Deus em toda cultura, de modo a perceberem a sua verdade, de maneira sempre nova, com os próprios olhos, e assim revela a toda a igreja uma porção cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus.

3. A Unicidade e a Universalidade de Cristo
Afirmamos que há um só Salvador e um só evangelho, embora exista uma ampla variedade de maneiras de se realizar a obra de evangelização. Reconhecemos que todos os homens têm algum conhecimento de Deus através da revelação geral de Deus na natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua injustiça, suprimem a verdade. Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou de diálogo cujo pressuposto seja o de que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias. Jesus Cristo, sendo ele próprio o único Deus-homem, que se ofereceu a si mesmo como único resgate pelos pecadores, é o único mediador entre Deus e os homens. Não existe nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos. Todos os homens estão perecendo por causa do pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que nenhum pereça, mas que todos se arrependam. Entretanto, os que rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e condenam-se à separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como “o Salvador do mundo” não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao final de tudo, serão salvos; e muito menos que todas as religiões ofereçam salvação em Cristo. Trata-se antes de proclamar o amor de Deus por um mundo de pecadores e convidar todos os homens a se entregarem a ele como Salvador e Senhor no sincero compromisso pessoal de arrependimento e fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todo e qualquer nome. Anelamos pelo dia em que todo joelho se dobrará diante dele e toda língua o confessará como Senhor.

4. A Natureza da Evangelização
Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se arrependem e creem. A nossa presença cristã no mundo é indispensável à evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de diálogo cujo propósito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreender. Mas a evangelização propriamente dita é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a ele pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus. Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e negarem-se a si mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo.

5. A Responsabilidade Social Cristã
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar, mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.

6. A Igreja e a Evangelização
Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como o Pai o enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrifical. Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade não-cristã. Na missão de serviço sacrifical da igreja a evangelização é primordial. A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo. A igreja ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, e é o agente que ele promoveu para difundir o evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela própria, ser marcada pela Cruz. Ela torna-se uma pedra de tropeço para a evangelização quando trai o evangelho ou quando lhe falta uma fé viva em Deus, um amor genuíno pelas pessoas, ou uma honestidade escrupulosa em todas as coisas, inclusive em promoção e finanças. A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que uma instituição, e não pode ser identificada com qualquer cultura em particular, nem com qualquer sistema social ou político, nem com ideologias humanas.

7. Cooperação na Evangelização
Afirmamos que é propósito de Deus haver na igreja uma unidade visível de pensamento quanto à verdade. A evangelização também nos convoca à unidade, porque o ser um só corpo reforça o nosso testemunho, assim como a nossa desunião enfraquece o nosso evangelho de reconciliação. Reconhecemos, entretanto, que a unidade organizacional pode tomar muitas formas e não ativa necessariamente a evangelização. Contudo, nós, que partilhamos a mesma fé bíblica, devemos estar intimamente unidos na comunhão uns com os outros, nas obras e no testemunho. Confessamos que o nosso testemunho, algumas vezes, tem sido manchado por pecaminoso individualismo e desnecessária duplicação de esforço. Empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais profunda na verdade, na adoração, na santidade e na missão. Instamos para que se apresse o desenvolvimento de uma cooperação regional e funcional para maior amplitude da missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento mútuo e para o compartilhamento de recursos e de experiências.

8. Esforço Conjugado de Igrejas na Evangelização
Regozijamo-nos com o alvorecer de uma nova era missionária. O papel dominante das missões ocidentais está desaparecendo rapidamente. Deus está levantando das igrejas mais jovens um grande e novo recurso para a evangelização mundial, demonstrando assim que a responsabilidade de evangelizar pertence a todo o corpo de Cristo. Todas as igrejas, portando, devem perguntar a Deus, e a si próprias, o que deveriam estar fazendo tanto para alcançar suas próprias áreas como para enviar missionários a outras partes do mundo. Deve ser permanente o processo de reavaliação da nossa responsabilidade e atuação missionária. Assim, haverá um crescente esforço conjugado pelas igrejas, o que revelará com maior clareza o caráter universal da igreja de Cristo. Também agradecemos a Deus pela existência de instituições que laboram na tradução da Bíblia, na educação teológica, no uso dos meios de comunicação de massa, na literatura cristã, na evangelização, em missões, no avivamento de igrejas e em outros campos especializados. Elas também devem empenhar-se em constante autoexame que as levem a uma avaliação correta de sua efetividade como parte da missão da igreja.

9. Urgência da Tarefa Evangelística
Mais de dois bilhões e setecentos milhões de pessoas, ou seja, mais de dois terços da humanidade, ainda estão por serem evangelizadas. Causa-nos vergonha ver tanta gente esquecida; continua sendo uma reprimenda para nós e para toda a igreja. Existe agora, entretanto, em muitas partes do mundo, uma receptividade sem precedentes ao Senhor Jesus Cristo. Estamos convencidos de que esta é a ocasião para que as igrejas e as instituições paraeclesiásticas orem com seriedade pela salvação dos não-alcançados e se lancem em novos esforços para realizarem a evangelização mundial. A redução de missionários estrangeiros e de dinheiro num país evangelizado algumas vezes talvez seja necessária para facilitar o crescimento da igreja nacional em autonomia, e para liberar recursos para áreas ainda não evangelizadas. Deve haver um fluxo cada vez mais livre de missionários entre os seis continentes num espírito de abnegação e prontidão em servir. O alvo deve ser o de conseguir por todos os meios possíveis e no menor espaço de tempo, que toda pessoa tenha a oportunidade de ouvir, de compreender e de receber as boas novas. Não podemos esperar atingir esse alvo sem sacrifício. Todos nós estamos chocados com a pobreza de milhões de pessoas, e conturbados pelas injustiças que a provocam. Aqueles dentre nós que vivem em meio à opulência aceitam como obrigação sua desenvolver um estilo de vida simples a fim de contribuir mais generosamente tanto para aliviar os necessitados como para a evangelização deles.

10. Evangelização e Cultura
O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. Com a bênção de Deus, o resultado será o surgimento de igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus.

11. Educação e Liderança
Confessamos que às vezes temos nos empenhado em conseguir o crescimento numérico da igreja em detrimento do espiritual, divorciando a evangelização da edificação dos crentes. Também reconhecemos que algumas de nossas missões têm sido muito remissas em treinar e incentivar líderes nacionais a assumirem suas justas responsabilidades. Contudo, apoiamos integralmente os princípios que regem a formação de uma igreja de fato nacional, e ardentemente desejamos que toda a igreja tenha líderes nacionais que manifestem um estilo cristão de liderança não em termos de domínio, mas de serviço. Reconhecemos que há uma grande necessidade de desenvolver a educação teológica, especialmente para líderes eclesiásticos. Em toda nação e em toda cultura deve haver um eficiente programa de treinamento para pastores e leigos em doutrina, em discipulado, em evangelização, em edificação e em serviço. Este treinamento não deve depender de uma metodologia estereotipada, mas deve se desenvolver a partir de iniciativas locais criativas, de acordo com os padrões bíblicos.

12. Conflito Espiritual
Cremos que estamos empenhados num permanente conflito espiritual com os principados e potestades do mal, que querem destruir a igreja e frustrar sua tarefa de evangelização mundial. Sabemos da necessidade de nos revestirmos da armadura de Deus e combater esta batalha com as armas espirituais da verdade e da oração. Pois percebemos a atividade no nosso inimigo, não somente nas falsas ideologias fora da igreja, mas também dentro dela em falsos evangelhos que torcem as Escrituras e colocam o homem no lugar de Deus. Precisamos tanto de vigilância como de discernimento para salvaguardar o evangelho bíblico. Reconhecemos que nós mesmos não somos imunes à aceitação do mundanismo em nossos atos e ações, ou seja, ao perigo de capitularmos ao secularismo. Por exemplo, embora tendo à nossa disposição pesquisas bem preparadas, valiosas, sobre o crescimento da igreja, tanto no sentido numérico como espiritual, às vezes não as temos utilizado. Por outro lado, por vezes tem acontecido que, na ânsia de conseguir resultados para o evangelho, temos comprometido a nossa mensagem, temos manipulado os nossos ouvintes com técnicas de pressão, e temos estado excessivamente preocupados com as estatísticas, e até mesmo utilizando-as de forma desonesta. Tudo isto é mundano. A igreja deve estar no mundo; o mundo não deve estar na igreja.

13. Liberdade e Perseguição
É dever de toda nação, dever que foi estabelecido por Deus, assegurar condições de paz, de justiça e de liberdade em que a igreja possa obedecer a Deus, servir a Cristo Senhor e pregar o evangelho sem quaisquer interferências. Portanto, oramos pelos líderes das nações e com eles instamos para que garantam a liberdade de pensamento e de consciência, e a liberdade de praticar e propagar a religião, de acordo com a vontade de Deus, e com o que vem expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Também expressamos nossa profunda preocupação com todos os que têm sido injustamente encarcerados, especialmente com nossos irmãos que estão sofrendo por causa do seu testemunho do Senhor Jesus. Prometemos orar e trabalhar pela libertação deles. Ao mesmo tempo, recusamo-nos a ser intimidados por sua situação. Com a ajuda de Deus, nós também procuraremos nos opor a toda injustiça e permanecer fiéis ao evangelho, seja a que custo for. Nós não nos esquecemos de que Jesus nos preveniu de que a perseguição é inevitável.

14. O Poder do Espírito Santo
Cremos no poder do Espírito Santo. O pai enviou o seu Espírito para dar testemunho do seu Filho. Sem o testemunho dele o nosso seria em vão. Convicção de pecado, fé em Cristo, novo nascimento cristão, é tudo obra dele. De mais a mais, o Espírito Santo é um Espírito missionário, de maneira que a evangelização deve surgir espontaneamente numa igreja cheia do Espírito. A igreja que não é missionária contradiz a si mesma e debela o Espírito. A evangelização mundial só se tornará realidade quando o Espírito renovar a igreja na verdade, na sabedoria, na fé, na santidade, no amor e no poder. Portanto, instamos com todos os cristãos para que orem pedindo pela visita do soberano Espírito de Deus, a fim de que o seu fruto todo apareça em todo o seu povo, e que todos os seus dons enriqueçam o corpo de Cristo. Só então a igreja inteira se tornará um instrumento adequado em Suas mãos, para que toda a terra ouça a Sua voz.

15. O Retorno de Cristo
Cremos que Jesus Cristo voltará pessoal e visivelmente, em poder e glória, para consumar a salvação e o juízo. Esta promessa de sua vinda é um estímulo ainda maior à evangelização, pois lembramo-nos de que ele disse que o evangelho deve ser primeiramente pregado a todas as nações. Acreditamos que o período que vai desde a ascensão de Cristo até o seu retorno será preenchido com a missão do povo de Deus, que não pode parar esta obra antes do fim. Também nos lembramos da sua advertência de que falsos cristos e falsos profetas apareceriam como precursores do Anticristo. Portanto, rejeitamos como sendo apenas um sonho da vaidade humana a idéia de que o homem possa algum dia construir uma utopia na terra. A nossa confiança cristã é a de que Deus aperfeiçoará o seu reino, e aguardamos ansiosamente esse dia, e o novo céu e a nova terra em que a justiça habitará e Deus reinará para sempre. Enquanto isso, rededicamo-nos ao serviço de Cristo e dos homens em alegre submissão à sua autoridade sobre a totalidade de nossas vidas.

Conclusão
Portanto, à luz desta nossa fé e resolução, firmamos um pacto solene com Deus, bem como uns com os outros, de orar, planejar e trabalhar juntos pela evangelização de todo o mundo. Instamos com outros para que se juntem a nós. Que Deus nos ajude por sua graça e para a sua glória a sermos fiéis a este Pacto! Amém. Aleluia!

Lausanne, Suíça, 1974.